Compaixão e Empatia – Ferramentas para a Criação de um Mundo Melhor

Estudos científicos já comprovaram que a prática do mindfulness , particularmente a prática da bondade amorosa, traz maior empatia e compaixão por  parte do praticante. Nada melhor para pacificar este mundo ainda tão abatido por tantas emoções e sentimentos negativos.

  Muito recentemente eu testemunhei uma situação difícil no meu ambiente de trabalho, onde os envolvidos estavam tão absortos numa enxurrada de emoções aflitivas, que não conseguiam enxergar além de suas próprias limitações e exigências. Como uma pessoa relativamente neutra na situação, era fácil para eu perceber o que estava se passando. O abuso do poder; a certeza, de ambas as partes, que cada um era o dono da verdade; e a falta de vontade de se engajarem num diálogo autêntico e sem más intenções. Tentei intervir, porém sem o menor impacto, principalmente no lado da pessoa que detinha mais poder e parecia mais irracional e inflexível. Decisões drásticas foram tomadas, de maneira totalmente desnecessária. Isso me pesou muito.

  Passei um fim de semana refletindo sobre a situação e sentia uma leve ansiedade que me afligia cada vez mais. Ao refletir, percebi que não havia muito o que pessoalmente poderia fazer a não ser envolver estas  pessoas numa energia e sentimento de compaixão e empatia. Então resolvi dedicar a minha meditação diária à prática da meditação metta.

  Metta é uma palavra em pali que significa bondade amorosa ou amor universal. Esta prática normalmente começa com o envio de votos de paz, saúde e felicidade para nós mesmos e depois para outras pessoas. E isso foi exatamente o que fiz. Comecei por mim e logo depois trouxe à mente cada uma das duas pessoas que se antagonizavam. Isto não só me trouxe mais calma e tranquilidade, apaziguando minha ansiedade, como também criou um ambiente mais positivo em torno das pessoas para quem enviei minhas energias positivas.

  Para a prática da meditação metta, formula-se desejos de bem estar em três ou quatro frases, tradicionalmente como:

- Que eu seja feliz.

- Que eu tenha saúde e força.

- Que eu possa viver com tranquilidade e bem-estar.

- Que eu esteja livre de sentimentos/conflitos internos e externos.

  Depois de enviarmos estes desejos a nós mesmos, fazemo-lo para as outras pessoas:

 - Que (o nome da pessoa) seja feliz.

- Que _____tenha saúde e força.

- Que ______possa viver com tranquilidade e bem-estar.

- Que ______ esteja livre de sentimentos/conflitos internos e externos.

  À medida que o praticante se familiariza com este exercício, pode expandir os desejos expressados. Algo como por exemplo - Que eu possa ver mais claramente, sem a semente do julgamento egoísta.

  É importante lembrar que esta prática funciona como qualquer outra prática do mindfulness, ou seja, é necessário manter a nossa atenção plena na visualização de nós mesmos ou de outras pessoas num estado de bem estar, assim como no processo de formulação de nossas intenções, como nas frases acima. Se meramente repetirmos de maneira distraída, não desfrutaremos dos benefícios que sentiremos ao verdadeiramente praticarmos a empatia e a compaixão. Se for mais fácil, podemos utilizar a respiração para manter o foco; ou seja, dizendo certas palavras ou frases na inspiração e outras na expiração.

  Finalmente, gostaria de reiterar que ao praticarmos o mindfulness, abrimos mão de nossos objetivos (ver a postagem Como Assim, Não Lutar?), em outras palavras, se nos dedicarmos a  esta ou qualquer outra prática com objetivos pré-determinados, estaremos de certa forma esperando certos resultados, sejam em nós mesmos, em nosso ambiente, ou nos outros. Vale lembrar que o mindfulness se resume em nos entregarmos ao momento presente, não importando como este se apresente e sem objetivos pré-fixados. Assim renunciamos à nossa tendência de controlar nossa experiência, e simplesmente deixamo-la fluir. Esta é a atitude que realmente nos traz mais calma, relaxamento e felicidade.

  Anna Black, no seu livro “A Year of Living Mindfully” faz um comentário importante a respeito  das nossas expectativas desta prática. Ela diz o seguinte:

  “Lembre-se de que [na meditação metta] não há nenhuma expectativa de você sentir algo em particular, e especialmente qualquer sensação agradável e terna. Estamos usando as palavras ou frases para focalizar nossa atenção, plantando as sementes da intenção. Assim abriremos as nossas mentes para a possibilidade de que possamos presenciar um momento de calma, paz, amor, ou o que quer que propusermos em nossas palavras ou frases. Nossa vida pode ser caótica e difícil, mas neste momento é possível sentir calma, força ou quaisquer outras qualidades que escolhermos.  É importante lembrarmos que estamos focalizando somente em nossa intenção, no momento presente.”

  Experimente você também a meditação metta! Com certeza estará contribuindo para um mundo mais harmonioso e feliz.

Fonte da Imagem: Nick Fewings (Unsplash)