Minha Cabeça Não Para!

Fonte da imagem: @alonsoreyes (Unsplash)

Imagine que uma pessoa super chata chegou para lhe fazer uma visita. Imagine também que esta pessoa resolveu ficar na sua casa indefinidamente, seguindo-a para todo lado, inclusive em lugares e situações íntimas! Em alguns momentos, você se diverte com ela, em outros até se distrai, mas geralmente, você não tem um momento de descanso! Ela fala constantemente, e nunca a deixa em paz, só quando você dorme, mesmo assim quando você acorda, mesmo durante a noite, lá está ela...sempre tagarelando!

Que inconveniência? Mas você sabe que na realidade isso nunca aconteceria porque quem teria a audácia de tentar uma proeza louca como esta? E se numa hipótese totalmente remota isso acontecesse, você rapidamente mostraria a porta da rua à sua visita indiscreta, e deixaria bem claro que não volte nunca mais!

A mente é uma tagarela. Os pensamentos nunca param.

Pois bem, e se dissesse que esta tagarela já está lhe seguindo há muito tempo? Pois é, esta tagarela é a sua própria mente! Seus pensamentos não param praticamente nunca, mesmo quando você gostaria que parassem. Que controle você tem sobre seus pensamentos? Eles têm vida própria, chegam quando querem, falam o que querem, e normalmente não nos dão sequer um minuto de sossego.

O experimento mental acima é sugerido pelo neurocientista Sam Harris, Ph.D para demonstrar a ubiquidade de nossos pensamentos. Eles nos perseguem e por mais que queiramos deixá-los de lado, principalmente aqueles pensamentos que nos irritam, nos causam medo ou ansiedade, ou nos mantém presos ao sofrimento, não temos muito controle sobre a potência e a determinação deles.

Imagine que alguém lhe fez algo que o deixou com raiva? Você não consegue para de pensar no incidente, na pessoa, no que foi dito ou feito. Estes pensamentos são como uma droga muito possante, que nos prende com uma força enorme e para sair de suas garras é preciso uma vigilância constante e muita determinação. Somos realmente viciados aos pensamentos!

Pior ainda quando estamos presos às preocupações futuras. Nossas mentes nos levam a muitas situações possíveis, e apesar de não termos absolutamente nenhuma certeza de que vão se materializar; desperdiçamos muita energia com uma ansiedade paralisante, capaz de nos manter acordados à noite, sofrendo por antecipação por algo que provavelmente não acontecerá! Como disse o famoso escritor Mark Twain: “Já tive muitas preocupações na minha vida, a maioria delas nunca aconteceu!”

Como então se livrar desta visita tediosa que nem sempre nos faz bem?

É praticamente impossível parar nossos pensamentos, porém podemos diminuir ou mesmo retirar a sua força. Como fazer isso?

Como praticar mindfulness de pensamentos?

Primeiramente precisamos cultivar presença. Este cultivo começa com atividades simples como escovar os dentes, lavar a louça, fazer um exercício físico etc. Basta prestarmos atenção ao que está se passando em cada momento: nossas sensações físicas (calor, frio, cansaço, dor, pressão, formigamento etc.), nossas emoções (positivas, negativas ou neutras), informações apresentadas pelos nossos sentidos (audição, visão, olfato, paladar, toque), e pensamentos. Vale observar que sua atenção só pode ter um foco em cada instante.

Ao atendermos aos nossos pensamentos, principalmente quando não estamos concentrados numa atividade, podemos perceber as histórias que criamos. Normalmente quando estamos distraídos, nossa mente vagueia e nossos pensamentos giram desordenadamente, em particular são atraídos a qualquer coisa relacionada à nós mesmos. Se praticarmos a atenção plena, poderemos ver esta atividade mental com mais clareza, observando o que se passa em nossas mentes.

Assim quando cairmos neste vórtice de pensamentos incessantes, poderemos encontrar uma maneira de nos firmarmos em algo que nos traga de volta ao momento presente, como a respiração ou o aterramento, por exemplo, e não nos tornarmos vítimas de uma força paralisante. Como diz o mestre do grupo Zen que frequento: “Pensamentos existem, mas não são reais!”

“Pensamentos existem, mas não são reais.”

Podemos assim examinar os pensamentos pelo que realmente são: somente pensamentos que vêm e vão, como trens que chegam e partem de uma plataforma. A escolha é nossa se vamos ou não embarcar em determinado trem. A prática do mindfulness nos ajuda a responder sabiamente a esta atração viciante. Na próxima vez que o trem de determinado pensamento estiver lhe afligindo, pare, observe e desembarque!