Praticar Mindfulness Requer Paciência

A paciência é uma grande virtude que requer muita abertura e esforços conscientes para ser vivida, principalmente no que concerne ao processo relacionado ao mindfulness. É importante aceitarmos o fato de que muitas vezes as coisas acontecem em seu próprio tempo, e que nossos esforços de manipularmos a situação presente para que as coisas se encaixem dentro de nossas ideias pré-concebidas de como gostaríamos que fossem é altamente contraproducente.

O autojulgamento resultante de nossas frustrações relacionadas a ideias pré-concebidas de como deveríamos ser ou agir, na maioria das vezes só nos traz transtornos e não cria uma situação em que possamos aceitar o momento presente como ele realmente está se apresentando. A paciência neste caso é essencial. Antes de mais nada é preciso que sejamos pacientes para com nós mesmos, principalmente nos momentos que desviamos dos padrões que idealizamos. Isso não quer dizer que vamos simplesmente jogar a toalha branca no ringue, dar de ombros e desistir. Vamos sim aceitar que somos humanos, que temos muitos condicionamentos a serem trabalhados, e que para tal necessitamos da muita paciência e perseverança.  O processo é longo;  e como metaforicamente diz o meu professor de meditação, isto é uma jornada de mil anos.

  Durante nossa prática formal diária, nos momentos em que nossas mentes estão agitadas, em que nossos esforços de nos concentrarmos em nossa respiração ou de controlarmos um impulso frenético de checarmos o nosso celular parecem ser totalmente impossíveis de serem colocados em prática, aceitemos que este é o momento presente, da maneira que se apresenta agora. Na realidade,  este incessante monólogo interior é uma tendência natural de nossas mentes mesmo que muitas vezes, por vários motivos,  a enxurrada de pensamentos não nos dê um momento sequer de sossego. Porém, não desistamos, aceitemos o que se apresenta e sejamos pacientes. Pacientes conosco e com o processo meditativo, tanto na prática formal quanto na prática informal.

  Assim se torna essencial que sejamos pacientes também nos pequenos momentos de nossa vida diária. Neste caso a prática do mindfulness se traduz em acordamos todas as vezes em que nos pegamos agindo dentro do piloto automático; seja ao dirigirmos o carro, ao comermos nossa refeição, ao tomarmos o nosso banho diário, etc. Temos infinitas oportunidades de praticar em todos os momentos, todos os dias. Porém, como não temos o hábito de estarmos presentes na maioria dos momentos de nossas vidas, não vamos nos culpar todas as vezes que percebermos que estamos agindo no automático. Simplesmente aceitemos que isso é um condicionamento que requer muito tempo, muita prática e principalmente muita paciência para ser trabalhado de maneira eficaz.

No processo de estabelecermos a nossa prática diária, é importante experimentarmos com várias opções até encontrarmos uma que realmente corresponda à nossa realidade, não só em termos de nosso estado físico, mental e emocional como também de nossa vida diária. Se eu sei que tenho muitas dificuldades em acordar cedo, porque vou me forçar a criar uma prática meditativa diária às 5:00 da manhã, só para me sentir frustrado todas as vezes que sucumbir ao meu impulso de dormir até às 6:00? Ou ainda, porque me julgar constantemente quando me sento para minha prática diária e não consigo por um momento sequer acalmar minha mente que pensa incessantemente?

Como disse sabiamente Lao-Tzu:  A jornada de mil milhas começa com o primeiro passo. Dê seu primeiro passo, e comece sua jornada. Os milhares de quedas durante o processo  fazem parte de nossa condição humana.  Afinal tudo é aprendizado, temos uma nova chance de acordar com cada respiração; assim desde que estejamos respirando, temos sempre a oportunidade de acordar para o agora. Reitero: tenha paciência porque os resultados valerão a pena.