A Prática do Não-Julgamento

Uma faceta muito importante quando embarcamos no domínio do mindfulness é mantermos uma atitude de não julgamento, o que é muito difícil, principalmente no inicio de nossa prática.

  O ato de julgar tem seu papel em nossa sobrevivência. No decorrer dos milhares de anos de nosso processo evolutivo como espécie, tivemos que aprender a discernir sobre o que era seguro ou não para a nossa sobrevivência. Julgamos nossas experiências e pessoas em todo momento para saber como lidar com experiências semelhantes no futuro. No entanto, apesar  da nossa necessidade de julgar perigos como forma de resguardar a espécie, nosso desenvolvimento intelectual também nos trouxe uma explosão de pensamentos de julgamento que acontecem tão rapidamente que normalmente tomamos decisões diretamente influenciadas por estes julgamentos relâmpagos sem um discernimento verdadeiramente baseado numa análise autêntica da realidade que vivemos. Na realidade, o normal é habitarmos constantemente em nossas mentes, e infelizmente não desafiamos o conteúdo de nossos pensamentos, que giram em torno de perguntas e afirmações do tipo que querem a todo custo preservar o nosso ego, e não realmente desafiá-lo a ver realmente o que está se passando.

Normalmente nossos julgamentos seguem um processo onde categorizamos algo como bom, ruim ou neutro. Obviamente bom porque nos sentimos bem, ruim porque nos sentimos mal e neutro porque não associamos uma sensação ou emoção de prazer ou desprazer ao evento ou à pessoa. Assim buscamos o que é prazeroso e evitamos o que não nos traz prazer. Em geral, rapidamente julgamos  algo como bom ou ruim, certo ou errado, importante ou não importante, justo ou injusto, etc. O problema é que este processo já está tão automatizado que geralmente não passa por um discernimento mais profundo baseado em uma visão totalmente clara da situação presente. Vivemos reagindo constantemente com base em julgamentos falsos que reafirmam nossa necessidade de manter nosso ego seguro. Como diz Jon Kabat-Zin: “Se temos que encontrar uma maneira mais eficaz de lidar com o estresse em nossas vidas, a primeira coisa que temos que fazer é nos tornarmos cientes dos julgamentos automáticos para que possamos ver através de nossos próprios preconceitos e medos, e assim nos liberarmos desta tirania.”

Nesta postagem vamos lidar somente com o julgamento ligado à nossa prática formal de mindfulness, como por exemplo, o exercício de prestarmos atenção à nossa respiração. É muito comum durante o tempo que estamos sentados praticando, nos deixarmos levar por comentários do tipo: “isto é muito chato,” ou  “isto não leva a nada, que bobeira,” ou ainda “não tenho jeito para isto, vou desistir.” E assim nos deixamos levar por estes julgamentos e muitas vezes acatamos estes comentários mentais como se fossem realidades. Quando nos damos conta disto, podemos enxergar estes tipos de pensamento quando surgem e simplesmente nomeá-los como julgamento e continuar a nossa prática de observar a respiração.

Reiterando o ponto acima: ao surgirem pensamentos que julgam a experiência presente, simplesmente observemos a experiência dos pensamentos sem diálogos extras, sem adicionar outros pensamentos ou mais palavras de julgamento. Somente observemos o que está se passando, notando os pensamentos de julgamento e retornando nossa atenção à respiração. Conceito simples, porém difícil de ser vivido. A perseverança é primordial.

Fonte da imagem: Samuel Silitonga do Pexels

Miranda Murphy