Abraçando o Silêncio
Imagem de Scott Umstattd @scott_umstattd (Unsplash)
Silêncio (Rumi)
Fica em silêncio por dentro.
Deixa o silêncio te levar ao que é mais verdadeiro na vida.
A alma gosta de ficar quieta,
nesse lugar onde ninguém mais está.
Deixa a boca se calar.
Deixa os pensamentos pararem.
Deixa o corpo ficar em paz.
Toda essa fala do dia a dia,
todas essas conversas para tentar ter razão,
deixa tudo isso parar.
A porta para o que é maior
é o silêncio.
Recentemente, durante um retiro silencioso, percebi logo no primeiro dia como minha mente se aquietou. Ao acordar no segundo dia, notei que meu sono, segundo o Fitbit, havia sido o mais restaurador em muito tempo.
Isso sempre acontece. Toda vez que participo de um retiro, volto para casa pensando:
“Por que não aproveito mais os momentos do dia para praticar o silêncio e a presença?”
Mas, como muitas vezes acontece, minhas intenções não se transformam em prática por muito tempo. Em poucos dias, apesar das melhores intenções, volto a me perder em conversas desnecessárias, muitas vezes apenas para preencher o vazio ou a sensação de desconforto que surge ao estar com outra pessoa em silêncio. Sinto a necessidade de falar qualquer coisa para evitar o constrangimento, até mesmo em casa.
Dessa vez, resolvi fazer diferente. Conversei com meu marido e combinamos de praticar o silêncio juntos durante uma das refeições diárias, conscientes de que ambos poderíamos ganhar com isso. Sabíamos que poderia ser desconfortável no início, mas também que abriria espaço para estarmos mais presentes um com o outro, sem precisar preencher cada momento com palavras. É claro que, quando algo precisa ser dito ou conversado, falamos sem problemas, mas buscamos evitar falar apenas para tapar o silêncio.
Percebi que o desconforto que sentimos em situações de silêncio está diretamente ligado às nossas expectativas, aos nossos julgamentos e às ideias que temos sobre o que é educado ou aceitável. Esse desconforto nasce do nosso condicionamento. Durante um retiro, o silêncio é natural e bem-vindo, mas por que, no dia a dia, ele parece tão desconfortável?
Vale a pena trazer o mindfulness para esses momentos em que nos sentimos sem graça ou inquietos diante do silêncio. Podemos prestar atenção ao que se passa dentro de nós, acompanhar cada sensação, cada pensamento, e permitir que o julgamento e o desconforto passem... porque tudo passa. E assim, podemos nos deleitar no silêncio e na presença.
Como nos lembra o grande poeta Rumi: “A porta para o que é maior é o silêncio.”
Convido você a experimentar! Escolha um momento do seu dia para praticar o silêncio: talvez durante uma refeição, uma caminhada ou ao tomar seu café. Observe como é estar presente sem precisar preencher cada espaço com palavras. Note os desconfortos que surgem, mas também os momentos de paz que o silêncio pode oferecer. E, aos poucos, permita que o silêncio faça parte do seu dia, trazendo consigo a presença e a quietude que a alma tanto deseja.