Comer com Atenção Plena (Prática)
Na minha última postagem, escrevi sobre a importância de comer com atenção plena. É tão comum comermos sem prestar atenção, por isso é essencial entrar em maiores detalhes sobre este assunto.
Jon Kabat-Zinn, no seu curso de MBSR, introduziu o exercício da uva passa. Neste exercício, que se tornou muito comum em círculos de instrução de mindfulness, a pessoa pega uma uva passa, examina-a primeiramente com os olhos, depois sente seu cheiro, com os dedos toca e apalpa a uva passa, antes de colocá-la na boca. Algumas pessoas até ouvem o barulho da uva passa ao ser apertada entre os dedos.
Uma vez na boca, não a mastigamos imediatamente, mas sim sentimos seu sabor e sua textura. Depois, vagarosamente, mastigamos a uva passa para presenciarmos cada momento da experiência, desde o processo de mastigação até a deglutição. Prestando atenção aos pequenos detalhes, sentimos profundamente o que é realmente comer com atenção plena.
É claro que não podemos comer todas as refeições desta maneira, porém podemos pelo menos estarmos presentes e atentos às primeiras garfadas que comemos. Eu particularmente, quando estou só e tenho tempo para comer as minhas refeições vagarosamente, com atenção plena, sinto enorme prazer em degustar o alimento e prezo muito esta experiência. Nestes momentos, costumo também fechar os olhos ao comer para sentir o gosto, a textura, e os movimentos relacionados ao processo de consumir o alimento.
Outra vantagem de comermos desta maneira é a tendência de comermos menos do que o fazemos normalmente. Primeiramente porque estamos mais atentos aos sinais enviados pelo nosso organismo ao atingirmos a saciedade. Em segundo lugar, a atenção plena nos deixa observar claramente quando estamos partindo para uma atitude de comer só por gula, quando estamos próximos de passar dos limites, simplesmente porque somos levados por impulsos não examinados. Quando prestamos atenção e somos honestos, sem o julgamento negativo, podemos então decidir se queremos e/ou precisamos de comer algo em determinado momento. Não há nada errado em decidir que o bolo de chocolate servido como sobremesa, está muito bom e que gostaríamos muito de comer outra fatia. A diferença é que esta decisão é feita com clareza e presença. É esta mesma clareza que também nos informará e nos dará o respaldo para decidirmos contra porções adicionais, normalmente desnecessárias. Quando tomamos esta decisão, podemos também observar que o ímpeto de buscar mais alimento passa relativamente rápido, uma vez que esperamos e observamos cuidadosamente o que se passa em nossas mentes e em nossos corpos, podemos constatar que vontade é algo que dá e passa.
Desta maneira, gostaria de reiterar como este processo funciona:
1. Utilize os seus sentidos sempre que possível. Observe o alimento, sinta seu cheiro, toque-o quando possível; deixe que o visual, a textura e o aroma capturem sua atenção.
2. Preste atenção à sua expectativa. Observe se está salivando, antecipando a chegada da comida à boca. Observe o que se passa ao nível emocional assim como ao nível corporal. Que sensações sente no seu corpo? Qual o nível de fome numa escala de um a dez?
3. Ao dar a primeira garfada, observe com atenção os movimentos interiores na boca. De que lado o alimento se encontra e como é passado de um lado para o outro da boca, como a língua se move para ajudar no processo de mastigação, se mastigamos o suficiente antes de engolirmos, o processo de deglutição, etc. Todo este processo normalmente se passa despercebido de nossa atenção. Fazemos isso tudo no piloto automático.
4. Repita o processo, lentamente... e bom apetite!
As pessoas normalmente dizem que isso consome muito tempo, e que geralmente comem em companhia de outras pessoas, o que torna este “ritual” mais difícil, e até um pouco embaraçoso. Porém, como escrevi mais cedo, não é necessário fazer isto em todas as refeições e mesmo durante uma refeição inteira. O importante é dedicar alguns momentos à comer com atenção plena, e com o decorrer do tempo, este processo tão importante se tornará mais natural para você.
Fonte da Image: Nadine Primeau @nadineprimeau (Unsplash)