Meditação Não é o Que Você Pensa

Muita gente pensa que para meditar corretamente, é preciso suprimir os pensamentos. Isto é uma ideia errônea. Como diz Jon Kabat-Zin, intencionalmente usando o trocadilho: “Meditação não é o que você pensa.” Normalmente começamos o processo da meditação mindfulness através da atenção colocada em uma âncora - a nossa respiração, na maioria das vezes. Rapidamente nos damos conta que os nossos pensamentos invadem abertamente a cena, manipulando tudo e nos levando distantes de nossa âncora quase que instantaneamente. Quando percebemos que estamos em outro “lugar ou tempo” temos um momento de atenção plena e retornamos à âncora. Isto acontece milhares de vezes e aí muitos de nós começamos a pensar que estamos fazendo algo errado porque não conseguimos parar de pensar. Antes de mais nada, é importante afirmar que isto acontece com virtualmente todo ser humano. A mente pensa, ponto final! Então, o que fazer? Continuar no mesmo caminho de retornar à âncora todas as vezes que nos pegamos pensando em algo. Com o tempo e a prática, teremos mais momentos acordados para o momento presente do que distraídos com os nossos pensamentos.

Outro aspecto interessante é observar o conteúdo dos pensamentos sem nos apegarmos a eles. Por exemplo, estamos sentados praticando formalmente nossa meditação, observando a nossa respiração quando um pensamento surge. Na maioria das vezes, principalmente no início de nossa prática meditativa, nem percebemos que mudamos de foco e só depois de algum tempo (alguns minutos ou até mais) constatamos que a nossa mente está vagando. No momento que isto acontece, vale a pena observar a natureza do pensamento, se estamos no passado ou no futuro, e simplesmente nomear o que observamos em termos do conteúdo dos pensamentos: planejamento, lembranças, sonhos, ruminações, discussões, preocupações, imaginação, etc. Podemos também nomear sensações ou sentimentos: calor, frio, pressão, contração, formigamento, medo, tristeza, alegria, excitação, etc. Simplesmente observamos e nomeamos nossa atividade mental, sensações ou sentimentos. Este não é o momento de deliberarmos mais ou analisarmos o conteúdo dos pensamentos ou sentimentos, mas sim apenas nomeá-los e retornarmos à nossa âncora.

Depois de algum tempo de prática, você começará a notar uma certa tendência nos seus hábitos de atividade mental. Você verá se passa mais tempo no passado ou no futuro, ou se está sempre preocupado, ou ruminando sobre algo que aconteceu recentemente, como o comentário atravessado do seu colega de trabalho ou a briga com seu marido, etc. No meu caso, além de preocupações banais sobre minhas atividades cotidianas, eu normalmente gasto bastante energia planejando para o futuro. Seria isto minha necessidade neurótica de tentar controlar minha vida ao máximo? Não sei, mas sei que as minhas infinitas listas mentais não me dão sossego. Por isso a importância de praticar mindfulness.

Outro aspecto crucial que você começará a observar é a impermanência de sua atividade mental. Como diz Caetano Veloso, “O pensamento parece uma coisa à toa, mas como é que a gente voa quando começa a pensar.” Claro que voamos, estamos totalmente alheios ao que está realmente se passando conosco, num processo contínuo de distrações. Nós vamos daqui a outro país em segundos, para depois voltarmos às compras de supermercado, seguido da lembrança do bate papo no bar ontem à noite, e assim sucessivamente. A natureza de nossa atividade mental é tão efêmera e ilusória, no entanto, nos comportamos como tudo que pensamos fosse real e verdadeiro. Isto nos leva a um beco sem saída até o momento em que acordamos para esta realidade e voltamos para o momento presente, o único momento que realmente temos.