Onde Está sua Atenção?
Recentemente escrevi sobre atenção na postagem intitulada, Preste Atenção – sua Vida Depende Disso, onde falei sobre o trabalho de pesquisa que vem sendo realizado pela Dr. Amishi Jha, na Universidade de Miami. No seu livro Peak Mind: Find Your Focus, Own Your Attention, Invest 12 Minutes A Day (2021), Dr. Jha explica mais detalhadamente seu trabalho e suas descobertas. Ela mostra como perdemos 50% de nossas vidas, totalmente distraídos. Reitera também o que praticantes de mindfulness falam há séculos, agora porém com o respaldo da ciência; seus estudos vêm demonstrar em tempo real o que ocorre em nosso cérebro quando estamos distraídos e alternativamente quando cultivamos nossa atenção. Dr. Jha explica que a atenção pode ser dividida em três tipos: a atenção lanterna, a atenção holofote, e a atenção malabarista.
A atenção lanterna defini onde colocamos nossa atenção. Ela ressalta para nós o que estamos apontando com seu foco, seja em nosso interior ou exterior. O que está fora do alcance da lanterna é bloqueado. A atenção holofote, como oposto da lanterna, é uma atenção ampla e receptiva, e entra em ação quando estamos num estado de alerta e precisamos escanear o ambiente, desdobrando a atenção em qualquer direção para encontrar o que procuramos, seja no ambiente externo ou interno, como pensamentos e emoções. Finalmente, a atenção malabarista corresponde à função executiva de nosso cérebro. Este tipo de atenção “dirigi, supervisiona e gerencia o que estamos fazendo a cada momento. Ao estabelecermos metas em nossas vidas, sejam elas grandes ou pequenas, utilizamos a atenção malabarista para que possamos coordenar tudo, manter a rota e realizar nossos objetivos.” (Peak Mind, p. 35) Assim, a atenção malabarista nos permite manter todas as bolas no ar simultaneamente.
Dr. Jha observa que, apesar da eficiência deste sistema triplo de atenção, tipicamente não utilizamos mais de uma modalidade ao mesmo tempo, pois a atenção funciona exatamente como necessário, através “da focalização, da observação ampla e do planejamento e gerenciamento de nosso comportamento dependendo da necessidade de cada momento.” (Peak Mind, p.37)
Nossa atenção é poderosa, mas normalmente não atentamos para este fato até o momento em que algo nos acontece, devido a uma crise de falta de atenção, como por exemplo, o acidente que ocorre porque estamos distraídos no celular, a dor física que ignoramos e se manifesta em algo mais grave porque mantemos nossa atenção totalmente focalizada em “coisas mais importantes”, o diálogo que se deteriora porque estamos engolfados em outra realidade simultaneamente. De acordo com Dr. Jha, baseado em seus estudos, a melhor maneira de cultivar a atenção necessária a cada situação e evitar a distração do qual nos tornamos vítimas, principalmente na era tecnológica em que vivemos, é através da prática do mindfulness.
É importante ressaltar que acima de tudo, no que concerne a nossa constante distração, Dr. Jha diz o seguinte: “não lute contra sua atenção; pois sabemos, através de nossas pesquisas, que a atenção tende a vagar. Simplesmente seja paciente durante sua prática formal e informal da atenção plena (mindfulness).” Dr. Jha explica a luta que travamos com a nossa atenção da seguinte maneira; “A Arte da Guerra, livro tradicionalmente atribuído a Sun Tzu no quinto século antes de Cristo, oferece um conselho sobre o que devemos fazer quando estamos numa luta injusta, quando somos claramente dominados e manipulados:
Ganhar cem vitórias em cem batalhas não é o ápice da habilidade.
Subjugar o inimigo sem lutar é o ápice da habilidade.
Em outras palavras, ela reitera, não desperdice sua energia tentando vencer a luta contra o enganche de sua atenção. Você não pode vencer essa luta. Ao invés disso, cultive a capacidade e a habilidade de posicionar sua mente de maneira que você não tenha que lutar.” (Peak Mind, p. 8)
Ela dá conselhos úteis e explica práticas que já apresentamos neste blog, como por exemplo, a prática de trazermos a atenção para a respiração (Respiração como Âncora) e quando notarmos que estamos distraídos com outros pensamentos, retornarmos nossa atenção à respiração, sem julgamentos, análises ou quaisquer outros comentários mentais. Ou quando a atenção vagar, darmos uma denominação objetiva ao que está puxando nossa atenção (pensamento, sensação, emoção) e retornarmos à âncora. Outra prática ainda é começarmos com a atenção focada e ao atentarmos para quaisquer distrações, simplesmente observarmos o que surgi, sem darmos qualquer denominação ou engajarmos com o que o que vem à tona – como se estivéssemos observando um rio e tudo o que passa nele. A prática do escaneamento corporal (Body Scan), ou a prática metta (Compaixão e Empatia – Ferramentas para Criação de um Mundo Melhor) também são mencionadas no livro.
Dr. Jha também explica que, baseado em suas pesquisas, 12 minutos de prática diária, cinco vezes por semana durante quatro semanas são o mínimo necessário para se observar resultados concretos e positivos que demonstram benefícios para atenção. Eu particularmente diria que se você pode dedicar mais do que 12 minutos diários, então o faça. Seu eu futuro o agradecerá.
O trabalho que vem sendo realizado por Dr. Jha e sua equipe é fenomenal e recomendo seu livro Peak Mind: Find Your Focus, Own Your Attention, Invest 12 Minutes A Day (ainda não traduzido para o português) como uma catapulta que pode ser o estímulo que você precisa para iniciar sua prática de mindfulness.