Autorregulação

Você já passou de 1 a 1000 em cinco segundos, ou se deixou levar a um estado de ira por uma bobagem, ou ainda explodiu e não conseguiu retornar a uma condição de relativa calma? Tudo isso é sinal de estresse elevado. Julgando por mim, quando saio do estado emocional que me levou a agir de uma maneira frequentemente irracional e até irreconciliável com minha personalidade, posso enxergar que agi como se estivesse sob uma neblina que me causou uma alta sensibilidade à menor provocação, assim como uma aparente inabilidade de utilizar minha capacidade cognitiva para analisar e responder à situação com calma, clareza e racionalidade.

  Um dos maiores especialistas mundiais em autorregulação, Dr. Stuart Shanker, PhD, explica como funciona nosso organismo quando reagimos de uma forma não compatível com o input inicial que deu origem à reação. O que está realmente acontecendo por trás de nossa explosão inusitada e desnecessária? Como saber se o estresse está nos mantendo num estado altamente reacionário?

Primeiramente ele explica que o estresse engloba mais do que o conceito que normalmente entendemos como estresse. Geralmente vemos o estresse como algo negativo, porém ele pode ser positivo, e uma certa quantia de estresse é necessário em nossas vidas para o nosso desenvolvimento, como elaborou o endocrinologista Hans Selye baseado em suas pesquisas nesta área. Dr. Shanker usa a definição de estresse, como foi originalmente utilizada, baseada no trabalho do fisiologista W.B. Cannon, que a partir do conceito de homeostase propôs que quaisquer influências internas ou externas que nos tiram de um estado de equilíbrio, constituem um estresse. Como analogia utilizemos a ideia do termostato. Se definimos a temperatura no termostato em 20º C e a temperatura do ambiente cai abaixo deste valor, o aquecedor central entra em ação, gerando mais energia, para aumentar a temperatura até que esta atinja o valor previamente escolhido. O mesmo acontece quando a temperatura do ambiente sobe além de valor previamente definido no termostato, causando o desligamento temporário do aquecedor para que a temperatura retorne aos 20º C. Assim também funciona nosso organismo, quando um agente estressor, como o frio por exemplo, age sobre nosso corpo, o sistema fisiológico interno automaticamente causa o movimento involuntário dos músculos causando calafrios numa tentativa de aquecer o corpo. A ideia é que o organismo vai sempre reagir a um estímulo para voltar ao estado de homeostase.  Assim, como explica Dr. Shanker, “um agente estressor é qualquer estímulo ou experiência que requeira gasto de energia para alimentar as demandas de uma resposta estabilizadora do sistema nervoso simpático.”

A partir deste conceito, o estresse abrange mais do que algo que nos causa desequilíbrios emocionais ou sociais. Dr. Shanker define estressores dentro das seguintes categorias: biológico, cognitivo, estressor emoção, social e pro-social. Ao ampliar a visão de estresse, podemos estar atentos às nossas reações aos vários estímulos que recebemos e ao nosso nível de energia em determinados momentos. Então por exemplo, algo que habitualmente não nos incomoda pode em determinado momento causar uma explosão emocional de nossa parte. Isso acontece quando estamos numa situação onde temos pouca energia e a tensão é alta, ou seja, o nosso organismo se encontra num estado onde não temos a energia necessária para lidar apropriadamente com as demandas energéticas daquele momento. Lembremo-nos de que a tensão também requer muita energia, então quanto mais alta a tensão, mais energia estamos queimando. Estas situações acontecem uma vez ou outra, mas se estamos reagindo constantemente assim, algo sinaliza que estamos presos num ciclo de pouca energia e muita tensão, ou seja, estamos presos num ciclo de estresse.

Dr. Shanker, com permissão do professor de psicologia Dr. Robert Thayer, adaptou o modelo relativo ao nosso humor proposto por Dr. Thayer para uso em relação ao nosso estado energético e capacidade de lidar com a tensão relativa a determinado estresse (ver diagrama abaixo).Geralmente, durante o dia a dia, o nosso estado interno e influências externas causam o movimento constante de um quadrante a outro neste diagrama. Por exemplo, quando estamos cansados (baixa energia) e vamos dormir, e a tensão é baixa também, não temos o menor problema em pegar no sono e descansar; ou se estamos calmos e alertas (alta energia) podemos lidar bem com as demandas de um trabalho exigente (alta tensão), trazendo bons resultados e até uma sensação íntima de entusiasmo. Por outro lado, se temos baixa energia (cansaço), mas a tensão é alta; por mais que tentemos, não conseguiremos dormir e se conseguirmos, o sono provavelmente não será restaurador. A situação torna-se problemática quando ficamos presos no quadrante inferior direito, presos num ciclo de estresse. Dependendo de outros fatores e circunstâncias, isso é problemático não só para nossa saúde física, mental e emocional, como também para nossos relacionamentos. O importante é detectarmos os estresses atuando nas cinco categorias nomeadas acima e partirmos para reduzir ou remover estes estressores. Uma dose de atenção (mindfulness) certamente nos ajudará a detectar nosso estado interno e externo, assim também como a prática de guiarmos nossa atenção para o que precisamos fazer para reduzir os estresses e retornar a um estado de mais calma e bem estar.

Fonte da imagem: https://www.selfregglobal.com/resources

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