Plena-Mente

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A Meditação e a Ciência São Compatíveis?

          Se alguém menciona a palavra meditação numa conversa, normalmente o primeiro pensamento que nos vem à cabeça está relacionado a um dos seguintes tópicos: hippies, monges ou místicos. Entretanto, nas últimas décadas, a meditação ou mais precisamente a meditação mindfulness tem sido alvo de muita pesquisa científica. Estamos no meio de uma verdadeira revolução, The Mindful Revolution - como menciona a revista Time de 3 de fevereiro de 2014.  Quem haveria de pensar que a meditação mindfulness, com sua origem budista, há séculos detida em monastérios asiáticos, viria a ocupar área de destaque no mundo científico? Há poucos anos atrás, um cientista que declarasse abertamente seu intento de trabalhar nesta área estaria cometendo suicídio profissional.  Hoje muitos profissionais de renome falam abertamente de seus estudos, assim como suas práticas contemplativas pessoais. Dr. Richard Davidson, neurocientista e professor de psicologia e psiquiatria na Universidade de Madison, Winsconsin, reconhece que foi um meditador de “armário” por vários anos antes de publicamente admitir sua prática perante a comunidade científica.

          Com essa empolgação toda que explodiu nos últimos anos, muitos se deixaram levar por uma onda de entusiasmo cego, onde estudos sem um bom embasamento científico mostraram resultados positivos, porém nem sempre totalmente confiáveis; gerando uma excitação exagerada da mídia e das redes sociais. Por outro lado, existem também muitos estudos e pesquisas onde se mantiveram todo o rigor científico necessário para resultados confiáveis, assim como promissores. Hoje em dia, a atenção plena é amplamente utilizada em hospitais, escolas, times de esportes profissionais; no tratamento de várias aflições físicas e mentais, tais como dores crônicas, depressão, ansiedade, insônia, comportamento aditivo, TEPT (transtorno de estresse pós-traumático). Com o advento de tecnologias como o fMRI (ressonância magnética funcional), tornou-se possível ir do relato subjetivo de um paciente à observação objetiva do que está realmente se passando no seu cérebro com a prática do mindfulness. Apesar deste avanço, como diz o professor Shinzen Young, “a neurociência contemplativa, apesar de significativa, ainda se encontra na fase inicial grosseira. Futuramente esperamos chegar a uma mudança de paradigma que ofereça um avanço radical nesta área.”

          Presentemente testemunhamos uma verdadeira crise no que concerne o bem-estar físico, mental e/ou emocional da população mundial. Não parece existir um país sequer que não seja afetado por tais transtornos.  Segundo a Organização Mundial de Saúde, a depressão é a maior causa de incapacitação no mundo, que continua crescendo. O número de pessoas diagnosticadas no mundo atingiu 322 milhões em 2015, com o Brasil reportando 11,5 milhões de pessoas debilitadas por este mal silencioso. Poderíamos entrar aqui no campo das estatísticas na área da saúde mental e do suicídio, que sabemos, vem reportando números crescentes de pessoas afligidas, entretanto vamos deixar isto para sua própria pesquisa no Google. É importante constatar que nos aproximamos de tratamentos que geram resultados positivos, sem consequências nocivas à saúde.

          O mindfulness é uma intervenção simples, sem efeitos colaterais, salvo em raros casos de pessoas com grandes transtornos de humor ou comportamento. Nestes casos a prática do mindfulness pode, muito rapidamente, trazer à tona muita bagagem emocional seriamente traumática. Este tipo de reação precisa de um acompanhamento muito diligente e próximo de um terapeuta, mais precisamente de um profissional bem versado em práticas meditativas. No entanto, na grande maioria dos casos, a atenção plena é segura e vem mostrando resultados promissores na aquisição e manutenção do bem-estar físico e emocional. É importante ressaltar que o acompanhamento médico e/ou terapêutico para vários transtornos emocionais e mentais é necessário, normalmente com a utilização de medicamentos apropriados, até o momento em que o profissional e o paciente sintam que os sintomas são sob controle, devido a incorporação do mindfulness como “estilo de vida”.

          A ciência começa a desbravar novos caminhos e mostrar a eficácia de práticas contemplativas num vasto campo de patologias. Neste blog, pretendo discorrer sobre conhecimentos já adquiridos nesta área, mostrando o porquê da euforia nos bastidores da revolução mindfulness.