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A Meditação É Uma Prática Egoísta?

Fonte da Imagem: @griestprojects (Unsplash)

Há quem pense que a meditação é uma prática egoísta, muito focada no indivíduo, limitando a promoção de aspectos relativos à coletividade e mudanças sociais positivas. Acredito que esta ideia se deve ao fato de ser uma prática normalmente feita individualmente e em silêncio, o que realmente causa uma certa separação do meio social durante sua prática. Esta linha de pensamento também inclui o conceito de que a meditação não traz benefícios a ninguém além da pessoa engajada em sua prática.

Quando analisada mais profundamente, esta ideia não faz jus à realidade. Consideremos objetivamente esta linha de pensamento. Quando paramos para meditar, nos dedicamos a algo que nos leva a uma viagem interior, o que é uma experiência que raramente buscamos de maneira desapaixonada, porque ao analisarmos qualquer emoção ou pensamento que normalmente nos vem à tona, não o fazemos de maneira objetiva, mas sim levados e influenciados por estados emocionais e/ou preconceitos inconscientes que frequentemente nos passam despercebidos, sutilmente emergindo de condições e estados que também nos fogem à consciência.

  A prática da meditação requer que prestemos atenção, sem julgamentos, ao que surge em nossas mentes e às emoções e sensações que borbulham em nossos corpos. Assim podemos ver mais objetivamente o que realmente está se passando dentro de nós e com sabedoria e claridade, enxergarmos a verdade por trás das mil histórias que tecemos em nossas mentes. Assim nos tornamos mais abertos às situações e este raio de luz que começa a brotar em nosso interior nos faz ver mais claramente quando estamos agindo ou reagindo de uma maneira levada pelo orgulho, por tendências egoístas e/ou outras emoções aflitivas. Esta não é uma prática fácil de ser feita - admitirmos para nós mesmos quando estamos errados dentro de um panorama que anteriormente não tínhamos vistos com clareza. Requer muita dedicação e prática. Muito mais difícil ainda é a admissão deste fato para outras pessoas, o que exige muito mais abertura, coragem e humildade (e vai além do escopo desta postagem).

Outro fator a ser considerado em relação à ideia de a meditação ser uma prática egoísta é o cultivo, pelo praticante, de mais calma, presença e lucidez para lidar com os imprevistos do dia a dia, e com os altos e baixos de nossos relacionamentos, desde aos encontros corriqueiros com estranhos até o navegar de interações íntimas com amigos, parentes e companheiros. Vale lembrar que esta lucidez só se estabelece com a prática diligente e frequente da meditação. Não vamos ter acesso a estes insights quando nos sentamos por cinco minutos uma vez ou outra e não trazemos seriedade e dedicação à nossa prática contemplativa. Neste caso a meditação, quando praticada com frequência e diligência, nos torna mais aptos para lidar não só com nossos relacionamentos, mas também com com os imprevistos que nos acercam a cada dia, desde pequenas inconveniências até as situações mais sérias. Lembremo-nos que o objetivo maior da prática meditativa é acordarmos para os estados delusórios em que vivemos e levar essa claridade de percepção para o nosso viver cotidiano.

o objetivo maior da prática meditativa é acordarmos para os estados delusórios em que vivemos e levar essa claridade de percepção para o nosso viver cotidiano.

Só a viagem interior frequente, metódica e autêntica nos fará perceber quem realmente somos, onde e como podemos mudar. A prática é solitária sim, mas seus resultados levam a mudanças internas e externas que trazem benefícios pessoais assim como para os outros. Imagine se cada indivíduo se dedicasse à prática verdadeira do mindfulness... o efeito positivo traria uma transformação sem precedentes para o nosso planeta. Que maravilha seria…Vale a pena sonhar!