Abraçar Mudanças = Crescimento!
Simples fato: mudanças fazem parte da vida. Recentemente passei por uma transição importante e positiva em minha vida, e admito que apesar de toda antecipação e entusiasmo, senti também medo e ansiedade. Ao refletir em minha experiência de maneira clara, pude perceber que estava resistindo à mudança, apesar de ser algo positivo que planejava e sonhava há tempo. Me perguntei então: por que tanta ansiedade em relação a algo positivo e tão esperado?
Mudança é difícil! Apesar de sabermos que a mudança é a única constante em nossas vidas, de certa forma vivemos como se tudo fosse permanente. Frequentemente nos acomodamos com o status quo, mesmo quando não seja a melhor opção para o momento, e temos medo ou hesitamos em arriscar uma mudança.
Por que é tão difícil enfrentarmos a mudança? Primeiramente, tememos perder o que já temos, mesmo que seja algo relativamente inútil ou as vezes até deletério para o nosso crescimento interior. Este sentido de perda pesa em nosso ser. É como também se estivéssemos apostando num jogo de azar. Não vale a pena tentar uma mudança caso as coisas piorem! Mudanças apontam para algo incerto. Não sabemos se o que optamos será melhor ou pior, e por isso não queremos encarar algo que potencialmente perturbe nossa estabilidade e previsibilidade. Por razões biológicas, somos criaturas do hábito, afinal hábitos são úteis pois criam um ambiente previsível, que não só nos poupa o estresse de estarmos alertas para algo desconhecido e potencialmente ameaçador, como também nos ajuda a navegar num mundo cheio de regras e normas que padronizam e simplificam nossas vidas. Desta forma, sair da rota comum e já navegada gera uma certa ansiedade.
Ao raciocinarmos sabemos que mudanças são inevitáveis; aquelas que ocorrem lentamente durante o decorrer de uma vida são menos perceptíveis, mas outras nos pegam de surpresa. Como diz o talentoso músico e poeta Toquinho: “E o futuro é uma astronave que tentamos pilotar. Não tem tempo nem piedade, nem tem hora de chegar. Sem pedir licença muda nossa vida, depois convida a rir ou chorar.” Apesar de querermos controlar o momento presente e o nosso futuro, esta atitude não passa de uma vã tentativa de congelar o quadro. Às vezes vivemos com condicionamentos irracionais desde a infância ou com pontos de vista antiquados e presos a superstições e ideias infundadas, as quais nunca questionamos, que também causam muita resistência às mudanças.
O autor John Maxwell diz que “Mudanças são inevitáveis, [mas] o crescimento é opcional.” Estas palavras me fizeram pensar sobre o medo da mudança também como um reflexo do medo de encarar a nossa potencialidade. Sabemos que somos capazes de muito mais, porém isto nos assusta, pois requer que encaremos cruamente quem somos agora, o que podemos ser e o que precisa ser feito para chegarmos lá - requer humildade, coragem e esforço.
Então é importante que passemos do nível conceitual ao nível experimental, dedicando alguns momentos diários prestando atenção às pequenas mudanças à medida que ocorrem, como por exemplo, mudanças constantes e normalmente imperceptíveis em nossa respiração, em nossos movimentos físicos, em nossos pensamentos, em nossas emoções, etc. Com o tempo, vamos nos sintonizando mais comumente e naturalmente a estas pequenas mudanças e este processo vai lentamente se tornando parte integral de nossa vida. Comecemos respirando com atenção plena e praticando o aterramento (em pé ou sentados), depois vamos aceitar o que está se passando agora sem tentar modificar ou julgar o momento presente. Relaxemos dentro da realidade deste exato momento, as sensações que experimentamos, os pensamentos que vêm à tona, os sentimentos que afloram. Não julgando o que se passa, simplesmente testemunhando.
Eu tive um professor de meditação que sempre dizia: “Agora está assim e tudo bem.” Quando o momento presente está bem, é fácil praticar assim, mas quando estamos sofrendo física, mental ou emocionalmente, é difícil abraçar esta posição de que o agora está sempre bem. Mas a aceitação causa um relaxamento que nos traz alívio e nos ajuda a encarar o presente, com mais espaço, mais equanimidade e uma visão mais clara para aceitarmos o que não podemos mudar ou, se necessário, planejarmos e acionarmos as mudanças necessárias. Por exemplo, digamos que neste momento uma dor física nos aflija – com a atitude mencionada acima, podemos ver mais claramente o quanto estamos adicionando à dor física com nossos pensamentos negativos e catastróficos (veja a postagem sobre aceitação) e podemos também perceber mais nitidamente o que é necessário ser feito para mudarmos nosso quadro aflitivo – mudanças em nosso estilo de vida (alimentação, sono, exercícios físicos, assistência profissional, etc.) ou mudanças em nossa paisagem interna (pensamentos, ruminações mentais, atitudes, emoções, etc.).
Este tipo de exercício, quando praticado com frequência e com uma atitude de curiosidade, humildade e aceitação cria uma abertura que conduz a uma clareza que normalmente não vivemos em nosso dia a dia, que é usualmente muito conturbado com distrações. Uma mente distraída não é condizente com o raciocínio claro e livre de julgamentos aliados à sentimentos que deturpam a lucidez do processo reflexivo. Isso é fácil? Não! É um processo rápido? Não. Mas, devo admitir que apesar de ainda estar lentamente experimentando com este processo e engatinhando em meu aprendizado, esta atitude sempre me traz mais bem-estar. Afinal, como disse o famoso psiquiatra suíço Carl Jung; “O que você resiste, persiste.”
Fonte da imagem: Suzanne D. Williams @scw1217 (Unsplash)