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Lidando Com A Raiva

Imagem: Afif Ramdhasuma @javaistan (Unsplash)

Você se lembra da última vez que você perdeu as estribeiras e virou bicho? Todo mundo sente raiva, é uma emoção comum e que tem seu valor, quando consideramos nossa sobrevivência sob o ponto de vista evolucionário. A raiva nos informa de situações das quais precisamos nos proteger, mas e quando vamos além de nosso instinto protetor e nos tornamos escravos de reações agressivas e compulsivas?

Imagine uma pessoa sendo abusada física, emocional ou psicologicamente? A raiva é uma reação comum e apropriada neste tipo de cenário pois nos leva a agir ou reagir de maneira a nos proteger de maiores e/ou futuros danos. Por outro lado, é comum nos irritarmos com pequenas inconveniências ou interações que nos deixam exasperados. A raiva na maioria dos casos não é devida, porém normalmente não possuímos a presença, a calma ou o controle mental necessário para evitá-la.

Buddha disse que a raiva tem uma raiz envenenada com uma ponta de mel. Em outras palavras, a raiva tem uma essência ruim, porém quando estamos com raiva sentimo-nos cheios de energia, os donos da verdade e com todo o direito de lutar pelo nosso ponto de vista. É comum nos momentos de raiva agirmos de maneira que causa arrependimento depois, porém muitas vezes o estrago já foi feito, e nem sempre temos a oportunidade ou a humildade de procurar a reparação. Para se ter uma ideia, basta observar a atual polarização entre as pessoas na esfera política e como ficamos exasperados quando estamos lidando com alguém com uma posição antagônica à nossa.

Stuart Shanker, PhD, especialista em autorregulação, deixa claro que uma alta carga de estresse nos deixa propensos a explosões irracionais pelas mínimas coisas. Este estresse pode vir de pequenas coisas, como fome, sono ou cansaço, como também de situações de burnout ou altas demandas físicas ou emocionais. Ele propõe que nos tornemos detetives de nosso estado físico e emocional para podermos lidar com as demandas de estresse com que lidamos. Só assim poderemos buscar atividades regenerativas que nos levam de volta a um balanceamento homeostático.  Isso não quer dizer suprimir a raiva ou fazer de conta que está tudo bem – esse tipo de comportamento simplesmente cria uma pressão interna que eventualmente vai explodir. Fazer-se de vítima também não resolve o problema, só nos coloca numa posição de culpar os outros e negarmos nossa responsabilidade.

Além de buscarmos cultivar o equilíbrio emocional através de relacionamentos e atividades que nos restaurem a calma, como podemos utilizar o mindfulness para lidar com as nossas explosões emocionais desnecessárias?

Dr. Arnaud Painvin, Mestre Zen, explica de maneira simples a melhor maneira de lidar com a raiva: “reconheça-a, aceite-a e não a analise. Você pode até dizer: ‘A raiva está aqui. Eu tenho raiva.’ Na verdade, ao nomearmos uma emoção nos tornarmos observadores dessa emoção em vez de sermos controlados por ela.” Este conceito foi popularizado por Dr. Dan Siegel com o adágio - nomear par domar.

Este tipo de presença requer prática, mas pode-se ir aos poucos, simplesmente notando quando estamos começando a sentir mudanças como aceleração do batimento cardíaco, tensão muscular, pressão no peito, mal no estômago, suor nas palmas das mãos, entre outras. Ao observarmos esse tipo de sensação é o momento de repetirmos para nós mesmos, ‘a raiva está aqui!’

Neste momento é bom nos calarmos ou melhor ainda, nos afastarmos. Podemos também concentrarmo-nos na respiração, tentando manter ou retornar a uma contagem regular da inspiração e expiração, de preferência com expirações mais longas para nos acalmarmos mais rapidamente. A raiva vai passar, e quanto menos analisarmos a situação ou darmos asas às histórias que cultivamos interiormente, mais rápido nos recuperaremos.