Plena-Mente

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O Que é Atenção Plena ou Mindfulness?

          Poderia passar muito tempo explorando o significado do mindfulness, visto que autores e professores diversos oferecem definições mais ou menos aprofundadas deste conceito. Com o propósito de manter maior simplicidade, vou utilizar uma das definições mais conhecidas, formulada pelo médico e professor universitário, Dr. Jon Kabat-Zinn. A propósito, Dr. Kabat-Zinn foi um dos pioneiros no trabalho de ocidentalização e secularização do conceito do mindfulness, marcando o início de um grande trabalho de pesquisas científicas com pacientes sofrendo de várias doenças e sob os efeitos do estresse em circunstâncias diversas.  Entre outras coisas, ele é responsável pelo desenvolvimento do Programa de Redução de Estresse Baseado em Mindfulness (MBSR em inglês).

          Dr. Kabat-Zinn defini mindfulness como A consciência ou estado mental que surge ao se prestar atenção, de forma intencional, à experiência ou fenômeno presente, sem julgá-la, criticá-la, ou reagir a ela.” (Kabat-Zinn, 2002)

          Trocando em miúdos:

          1. Prestar atenção - Lembra-se quando sua mãe ou sua professora falava para você quando estava com aquela cara de perdido: “Olhe para cá, preste atenção!” Naquele momento, elas estavam pedindo que você colocasse seus olhos e seus pensamentos focados no que estavam falando ou mostrando. Que você abandonasse a sua viagem mental e "colocasse seus  pés no chão." Pois é, isso é importante, mas alguém já lhe ensinou como prestar atenção? Provavelmente não. Nós achamos que basta você olhar e se concentrar e voilà! Você agora está atento para tudo que vier ao seu encontro. Porém, sabemos muito bem que não é bem assim. A nossa atenção vagueia frequentemente, nos levando a vários locais e tempos diferentes no passado e/ou futuro numa questão de segundos. Em geral vivemos no piloto automático. Fazemos as coisas sem dar-lhes muita atenção enquanto o nosso monólogo mental não para. De maneira que prestar atenção não é bem fácil assim. Entraremos em maiores detalhes sobre como treinar a nossa atenção em posts futuros, mas por agora vamos simplesmente dizer que prestar atenção é focalizar. Usando a analogia de uma lanterna acesa num quarto escuro, vamos pensar que onde colocarmos o foco da luz aquele pequeno espaço estará sendo iluminado, possibilitando-nos de ver mais claramente o que está sob este foco. Este então é o conceito de prestar atenção.

          2. No momento presente - o agora, este minuto, este segundo mesmo, é tudo que temos. Não sabemos o que o próximo minuto irá trazer. É bem clichê dizer que devemos parar para cheirar as flores, mas na realidade poucos somos os que sabemos como fazer isso. Quando paramos para cheirar as flores ou fazer qualquer outra coisa, na maioria das vezes, a nossa atenção está dividida entre muitos pensamentos, ideias, estórias mentais, aqueles monólogos intermináveis que parecem ocupar constantemente o terreno de nossas mentes. Hoje em dia, temos a adição da tecnologia que também nos transporta constantemente do presente de fato para o mundo virtual, mas isso ficará para outro post. Resumindo, o momento presente neste contexto consiste em focalizarmos no que está acontecendo, no fluxo e refluxo de sensações, emoções e pensamentos a cada momento, à medida que estes se desdobram.

          3. De uma forma específica - esta forma é a maneira com que escolhemos para focalizar a nossa atenção em cada momento. Existem vários métodos e formas de se fazer isso, o que exploraremos mais tarde, porém a forma mais utilizada, principalmente no início de nossa exploração da atenção plena ou mindfulness, é a nossa respiração. A respiração é algo que geralmente não prestamos atenção, a não ser quando ela falha, certo? Pois aqui utilizaremos a respiração, nossa constante companheira, como nossa âncora, nosso ponto de retorno todas as vezes (milhares de vezes) em que a nossa atenção vagar.

          4. Propositalmente - Isso quer dizer que vamos tomar uma decisão, vamos nos dedicar totalmente à nossa intenção de prestar atenção.

          5. Sem julgamentos - 'Oh! Como isto é difícil!' Como sempre somos os nossos piores inimigos. Eu, como uma perfeccionista em recuperação, sei muito bem o que é a voz do autojulgamento. Aquele constante: “Não consigo fazer isto! Os outros parecem estar fazendo certo, mas para mim não está funcionando.” Ou, “Minha cabeça não para! Não consigo controlar meus pensamentos, devo estar fazendo algo errado. Todo mundo parece estar tão zen, menos eu.”  Durante os momentos que vamos nos dedicar ao nosso treinamento da atenção plena, convido-os a suspender os julgamentos, dirigidos a nós mesmos e aos outros também. Todas as vezes que nos apanharmos na autocrítica ou na crítica alheia, vamos simplesmente suspender estes pensamentos momentaneamente. Com o tempo, muita prática e exercícios específicos, poderemos cultivar a autocompaixão e a compaixão direcionada aos outros, o que nos conduzirá a um bem-estar extremo!