Plena-Mente

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A Distração Gera Infelicidade?

Todd Trapani @ttrapani (Unsplash)

Todos temos nossos momentos de distração; uns mais...outros menos. Às vezes, a nossa distração ou esquecimento nos faz até temer que estejamos apresentando os primeiros sintomas de demência senil. Recentemente uma amiga (que não sofre de quaisquer problemas mentais) relatou que ficou atordoada procurando suas chaves do carro e da casa, porém depois de uma longa busca em vão, não teve outro recurso senão cancelar seu compromisso pois não tinha a menor ideia onde as tinha colocado. Horas mais tarde, ela foi retirar algo da geladeira onde encontrou também as chaves que ela mesma tinha distraidamente posto atrás de algum pote.

É fácil argumentar que temos nossos momentos de distração ou ‘ausência’ mental, que nossas mentes estão repletas de informação e que a vida corre num ritmo excessivamente acelerado para prestarmos atenção a tudo. Além do que a automatização de nossas ações facilita nossas vidas, pois seria oneroso termos que despender muita energia em alta concentração nas mínimas atividades. Concordo, porém a distração nos custa muito! Custa-nos todos os momentos de nossa vida que estamos perdendo, e não são poucos.

Um famoso estudo de Harvard, liderado por M. Killingsworth and D. Gilbert, mostrou que a maioria de nós está distraído 47% do tempo que passamos acordados. Isto quer dizer então que estamos, de alguma forma, perdendo 47% de nossas vidas. Ao invés de realmente curtirmos o calor de um abraço, o sabor de um alimento, ou a conversa com um amigo, estamos geralmente perdidos em pensamentos e distantes do que realmente estamos fazendo. No estudo mencionado acima, os autores chegaram à conclusão que “uma mente errante é uma mente infeliz.” O estudo foi conduzido através de um aplicativo onde aproximadamente 5.000 pessoas aleatoriamente recebiam uma mensagem pedindo-lhes para escolher um número entre 0 a 100 para medir como estavam se sentindo naquele exato momento. A seguir respondiam, em tempo real, a mais duas perguntas: o que você está fazendo agora? E você está pensando em algo não relacionado à atividade sendo realizada?

Os resultados deste estudo deixaram claro que as nossas mentes vagam frequentemente, independente do que estamos fazendo. Além do mais, observou-se que as pessoas se sentiam menos felizes quando suas mentes estavam vagando. Ficou evidente que a atenção dispersa gera consequências negativas, principalmente quando estamos entretendo pensamentos neutros ou negativos.

São vários os estudos que destacam o lado negativo da experiência da mente errante, porém outras pesquisas demonstram que é importante deixarmos nossas mentes vagarem de vez em quando como fator de relaxamento, pois atividades que requerem muita concentração podem drenar nossas energias. Baseado nesta ideia, sonhar acordado pode nos trazer momentos de pausa para refazimento mental. Vale ressaltar, entretanto, que no geral a mente constantemente distraída é fator de inquietude.

O psicólogo Scott Barry Kaufman, que concentra seus estudos nas áreas de autorrealização, inteligência e criatividade, foi pupilo de Jerome L. Singer, o pai das pesquisas na área da mente errante. Kaufman explica que ao começar a explorar mindfulness para benefício pessoal, observou que mindfulness não é incompatível com o sonhar acordado, pois com uma certa flexibilidade, a prática do mindfulness nos mostra que podemos estar em contato com nossos pensamentos, sonhos, padrões de comportamentos, desejos, e simplesmente observarmos nossa atividade mental. Em outras palavras, através da prática do mindfulness podemos monitorar quando estamos distraídos e observarmos o conteúdo de nossa distração. De maneira compassiva, suavemente retornamos nossa atenção para o momento presente, como quer que este momento se apresente. Mais importante ainda, a prática do mindfulness ajuda a parar de nos identificarmos com nossos pensamentos de maneira que achamos que tudo que pensamos é real. E de acordo com os autores do estudo de Harvard mencionado acima, uma mente errante normalmente está mais absorvida em pensamentos negativos.

A monja Pema Chodron explica que levamos nossos pensamentos para onde vamos, então não importa com quem ou onde estamos, se estivermos presos à pensamentos negativos, nunca estaremos felizes. No seu livro Quando tudo se desfaz: Orientações para tempos difíceis, ela diz “Não nos sentamos em meditação para nos tornarmos bons meditadores. Sentamos em meditação para que estejamos mais despertos em nossas vidas.”

A simples observação, através da prática do mindfulness, é suficiente para ressaltar o turbilhão de pensamentos que nos assola a todos os momentos – este é o primeiro passo para vivermos no aqui e agora. Depois, com a prática cotidiana, abrimos os olhos para nossas mentes tagarelas, e começamos a nos desconectar desta tirania mental. Só assim podemos nos equipar para o verdadeiro despertar.